sexta-feira, 15 de maio de 2009

Palácio Nacional da Ajuda.

[Paulo Guedes, 19--]

Em 1726, D. João V adquire um conjunto de três quintas, na zona de Belém. A primeira tinha já uma edificação que é hoje o Palácio de Belém, a segunda uma ermida do Oratório que foi depois expandido para o que é hoje o Palácio das Necessidades e a terceira a quinta da Ajuda reservada para a edificação de uma residência real de Verão. Após o Terramoto de 1775, a Quinta da Ajuda passa a ser utilizada como Paço Real, no reinado de D. José. Este, bastante abalado com a situação do terramoto, mandou erguer no Alto da Ajuda um novo Paço a que chamou “Real Barraca”.


No ano de 1768, o ministro Sebastião José, manda construir o primeiro jardim botânico em torno do Palácio. É em 1794 que ocorro um enorme incêndio que destrói por completo a Real Barraca e grande parte do seu recheio. Torna-se necessário construir um novo Palácio para acolher a família real. O Príncipe D. João aprova a construção de raiz de um novo palácio. A traça do plano é de Manuel Caetano de Sousa (1742-1802) que apresenta um projecto Barroco, sendo o lançamento da primeira pedra celebrado a 9 de Novembro de 1795; também novos artistas chegados de Bolonha e influenciados pela cultura neoclássica participam na construção/decoração do novo palácio. Mas com a demora e outras razões, o plano integral do Palácio é posto de parte.
D. Maria II e seu segundo marido, o Rei-consorte D. Fernando (futuro D. Fernando II) habitavam o recém-adaptado Palácio das Necessidades e o novo e extravagante Palácio da Pena mandado erguer em Sintra por D. Fernando. O Paço da Ajuda, passa assim e novamente a um plano secundário - novamente, visto ter acontecido o mesmo com a Real Barraca no na época da D.Maria I - assistindo-se apenas à realização de algumas cerimónias de beija-mão nos dias festivos da Corte. E assim permanece, apenas ligado a algumas cerimónias reais, nunca sendo habitado pela família real.

Quando a rainha Maria Pia prossegue com alterações à decoração, foram introduzidas novas regras de higiene, de conforto, de privacidade e de individualidade dos espaços, características da mentalidade burguesa do séc. XIX. O Palácio da Ajuda tornou-se simultaneamente cenário das festas de grande gala, banquetes e recepções oficiais, bem como de acontecimentos ligados ao quotidiano da Família Real. Depois da morte de D.Luís em 1889 é D.Carlos, seu filho quem ocupa o trono ao lado da Rainha D. Amélia. Por essa altura D.Carlos e D. Amélia viviam em Belém com os seus filhos, o Príncipe Real D. Luís Filipe e o Infante D. Manuel (futuro D. Manuel II). O Palácio da Ajuda passa novamente para segundo Plano.
A 1 de Fevereiro de 1908, aquando do assassínio do Rei e o Príncipe herdeiro D. Luís Filipe, assume o trono D. Manuel II, que reside nas Necessidades continuando o Paço da Ajuda reservado apenas para cerimónias de Estado. D. Maria Pia residiu no Palácio até Outubro de 1910, data em que toda a Família Real que foi forçada a abandonar Portugal, na sequência da instauração da República. Com os anos republicanos, o Palácio ganha nova vida: a maioria dos paços é abandonada, ficando todos os seus bens armazenados no Palácio da Ajuda, que abre em 1938 como Museu com uma diversificada tipologia de objectos decorativos e utilitários preenchem e recriam os diferentes ambientes oitocentistas, ao longo do percurso das várias salas.


Em termos arquitectónicos, trata-se de uma arquitectura do tipo civil residencial, de estilo neoclássico, de planta sensivelmente quadrada, organizando, em torno de um pátio quadrangular, quatro alas, cuja volumetria paralelepipédica é coberta por telhados a duas águas, articulados nos ângulos.


No interior, há a destacar, entre as inúmeras salas do palácio, no primeiro andar, a Sala dos Archeiros (com pinturas nas sobreportas e troféus nos ângulos); a Sala do Porteiro da Cana (em cujo tecto se observa uma composição em perspectiva arquitectónica); a Sala de Espera ou da Audiência (com uma representação do regresso de D. João VI do Brasil); a Sala de D. Sebastião ou dos Cães (com tecto de André Monteiro e sobreportas de Cunha Taborda); a Sala do Despacho ou do Beija-mão (nos muros observam-se seis tapeçarias de Aubusson, da série História de Alexandre, e no tecto uma alegoria da Felicidade Pública, de Cirilo Wolkmar Machado); a Sala de Música (tecto em grisailles da autoria de Felisberto António Botelho); e ainda a Salinha de Saxe e a Sala de Mármore ou jardim de Inverno.

No segundo andar, registe-se a Sala Oriental (dotada de mobiliário e adereços oriundos da China e do Japão); a Sala de D. Fernando (guarnecida de madeira de carvalho, tecto de caixotões e mobiliário ao gosto holandês e alemão); a Sala Império (em cujos muros se observam três tapeçarias de Aubusson); a Sala dos Gobelins (com várias tapeçarias daquela oficina, executadas segundo cartões de Audran de 1782 e cuja temática são costumes turcos); a Sala do Trono (com pé-direito muito elevado, apresenta uma composição de temática alegórica no tecto, da autoria de Máximo dos Reis); a Sala dos Embaixadores (de planta elíptica, integralmente revestida de placagem de mármore); a Sala de jantar (com trabalhos de talha de Leandro Braga); e ainda a Sala do Corpo Diplomático, a Sala de D. João VI e a Sala da Aclamação ou da Tocha.


O Palácio Nacional da Ajuda ou Paço de Nossa Senhora da Ajuda é um monumento nacional português, hoje em grande parte um magnífico Museu, estando instalados no restante edifício a Biblioteca Nacional da Ajuda, o Ministério da Cultura, e o IPM. O Palácio e o Museu são actualmente geridos pelo IPPAR e pela Presidência da República.


Cláudia Fernandes.

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